terça-feira, 1 de março de 2011

Nunca me Esqueças


A última página chegou ao fim… Com uma lágrima a baloiçar nos olhos fechei o livro Nunca me Esqueças cuja escritora é Lesley Pearse, uma das preferidas do público português.
A própria vida de Lesley Pearse é uma fonte de inspiração para os seus romances, mesmo que aborde a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, rejeição, pobreza ou até vingança, dado que sentiu na pele essas vicissitudes da vida. Lutadora, deve a estabilidade e sucesso à escrita. Tem as obras traduzidas em mais de trinta línguas. Os seus romances de maior sucesso para além de Nunca me Esqueças são: Segue o coração, Nunca olhes para trás e Procuro-te.
Nunca me Esqueças relata a vida de Mary que, num dia apenas com um gesto vê a sua vida rumar por mares onde o Gigante Adamastor se encontra a cada passo que dê. Tudo começa quando, num dia decide sair da sua pacata vida na Cornualha e rouba um chapéu sendo punida à forca. A sua única alternativa para se livrar da morte no cadafalso é recomeçar a vida no outro lado do mundo.
Mary, como tantos outros prisioneiros de ambos os sexos são deportados para a Austrália no intuito de formar a primeira colónia de condenados. A viagem é feita no Dunkirk onde o fedor a dejectos humanos espalhados pelo chão do navio prisão assim como vomitado, a falta de água e alimentação em quantidade e qualidade, o passear constante de ratazanas em cima dos corpos imundos, os piolhos e a falta de ar fresco resultaram no avançar de doenças. Muitos óbitos foram surgindo, sendo os corpos escanzelados lançados ao mar. Com a alegria e fome de aventura, Mary revolta-se! E, como algumas prostitutas que embarcavam naquele inferno, vende o corpo para salvar a sua vida. Consegue comida extra, roupa lavada, prestigio perante os outros condenados e, acima de tudo apanhar ar fresco. Todavia, acaba por ficar grávida de Charlotte. Sem as mínimas condições de higiene dá a luz…
Aquele nauseabundo e pestilento navio prissão que, Mary pensava ser o inferno finalmente chegou ao terrível fim da viagem. Ao desembarcar avistaram o nada! Apenas um calor abrasador, vegetação e animais estranhos.
Os condenados, ao sentirem solo debaixo dos seus pés e libertos dos grilhões que os prendiam corriam tais animais em época de cio em direcção ao sexo oposto. Mary deparou-se com imagens horripilantes: mulheres derrubadas na areia sendo possuídas tanto por oficiais como por outros prisioneiros, faziam fila e violavam umas a seguir às outras.
O tempo foi passando, Mary para se proteger casa-se com Will. Pescador com quem já trocara conversa a bordo do Dunkirk. É-lhes dada uma cabana pequena.
As rações para a população escasseavam, os solos eram inférteis, os condenados preguiçosos, os oficiais entregavam-se ao ócio. O divertimento: sexo, rum, furtos.
Do casamento nasce Emmanuel. Após ver o marido ser açoitado, Mary começa a planear a fuga por mares nunca dantes navegados até Kupang. Reuniram tudo quanto precisavam, levaram alguns dos outros condenados que podiam ser úteis e zarparam numa noite de luar.
Várias tempestades, ameaças a vida, falta de água doce, excesso de sol abrasador fizeram da viagem o pior dos seus pesadelos, num barco descoberto. Mas, o ânimo e a coragem de Mary alegravam a restante tripulação. Ao chegarem escanzelados, fracos, desnutridos ao destino viveram uma vida normal. Mas, eis que a vida dá uma volta de 180º e, novamente o terror volta: desilusões surgem! São traídos, novamente se vêem presos com grilhões e num navio prisão. Novos surtos de doenças atacam levando Mary a desejar a forca em Inglaterra. Terá ela novas forças para aguentar? Inglaterra inteira já tinha conhecimento da história todavia, seria isso suficiente para que tenham compaixão dela a ponto de ser absorvida da forca? Irá ela encontrar o verdadeiro amor ou irá novamente o seu coração sagrar?
Até onde iria por amor? Subtítulo do romance pergunta à qual ninguém sabe responder. Num desabafo já esgotado e sem esperança de Mary deparamo-nos com a seguinte citação: “Não sei se acredito que os homens sejam capazes de amar. Quando os homens são capazes de usar o mesmo acto pelo qual demonstram o seu amor a uma mulher para lhe mostrar o seu desprezo e ódio, não acredito que tenham coração.” Citação que evidencia bem a dor que uma mulher sente na sua fragilidade, quando se entrega de corpo e alma a um acto, a um homem que, de uma hora para a outra pode significar desprezo e dor.
Indubitavelmente, um romance no qual é impossível evitar que as lágrimas balancem nos olhos e rolem pela face. A luta de uma mulher pelo desconhecido, pela liberdade, amor. A luta pela sobrevivência, a oposição contra um sistema e governo injustos no qual apresentam propostas e ideias megalómanas todavia, a preguiça, o ócio, os vícios tornam as pessoas mesquinhas e pequenas, incapazes de colocar em prática os seus projectos.
Embora a escritora tenha usado a sua imaginação bem como as suas vivências pessoas, é chocante chegar a última página do livro e ter conhecimento que a obra é baseada em factos verídicos!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Dúvida


Os ponteiros do relógio caminhavam a passos largos em direcção à meia-noite quando coloquei a chave na fechadura da porta da entrada de casa. Ao entrar no quarto, ouço o badalar do fim/início de mais um dia.
Tentei em vão dormir... Dava voltas e voltas na cama, mas o filme que tinha visualizado não me saía da cabeça!
“Dúvida” é um filme que levanta várias questões filosóficas, como por exemplo: o que é a certeza? É uma peça que John Patrick Shanley colocou nas telas de cinema com um excelente elenco: Amy Adams, Meryl Streep e Philip Hoffman nos principais papéis. A história decorre nos Estados Unidos da América, mais especificamente em Bronx, na Escola de St. Nicholas, no ano de 1964. Numa época em que comer carne às sextas-feiras era um acto impensável, escrever com esferográfica era um acto do Demónio e para um negro ingressar num liceu era necessário ter um comportamento impecável. Nessa mesma altura reinavam as acusações de abuso a menores por parte de padres católicos. Com a aproximação excessiva do padre Flynn, interpretado por Philip Hoffman, a um aluno negro, Donald Miller, a irmã James, sempre submissa, maliciosa e inocente, desabafa com a irmã Aloysius Beauvier, personagem a que Meryl Streep dá vida, pessoa que acreditava e defendia que a aprendizagem se baseava no medo e na disciplina, incrementando costumes rígidos na escola. Juntando as suspeitas da irmã James com o passado cheio de “histórias” nas paróquias precedentes e a maneira de ser do carismático, vibrante e inovador padre, a irmã Aloysius cria uma certeza dentro da sua cabeça para expulsar o padre da escola. Mas as provas que ela possui não passam de meras acusações e de uma certeza moral, uma certeza que ela está convicta de possuir e tudo faz para que se torne realidade. Contudo, essa mesma certeza que possuía transforma-se na certeza das suas dúvidas...
A escuridão e o silêncio reinavam no quarto. Foi então que me deixei embrenhar na reflexão sobre o filme não sei por quanto tempo.
O que é a certeza? Utilizando a função metalinguística da linguagem, podemos defini-la como sendo a qualidade do que é certo; firmeza; convicção... Mas será bem assim? Afinal, nós temos a certeza do quê? A certeza é algo real ou meramente algo em que acreditamos afincadamente?
Quando se acredita verdadeiramente em algo, dá a sensação que tudo se move a fim de tornar essa certeza mais evidente, passando de certeza a obsessão!
Outro facto que me marcou no filme foi uma afirmação, que passo aqui a citar: “Eu conheço as pessoas.” Mas será que se conhecem realmente as pessoas? Mesmo aquelas que nos rodeiam? Não haverá algo de misterioso e escondido em cada pessoa que a torna especial e única? Eu confesso que não conheço as pessoas que me rodeiam e tenho medo de as conhecer. Cada dia é um dia de novas descobertas daqueles que fazem parte do nosso mundo. Nem a mim própria me conheço, como poderei conhecer os que me rodeiam? Com o passar dos dias, cada um de nós cria uma imagem de cada pessoa seguindo diferentes critérios e dependendo da maneira de ser de cada um. Não é em vão que se simpatiza com umas e simplesmente se detestam outras pessoas.
Um filme com uma história simples, cheia de mistério e divergências, coloca frente a frente a certeza no puro instinto humano, um pensamento e cultura retrógrada com uma mente aberta. Entre estas duas margens opostas encontra-se uma ponte que balança sem saber para que lado se há-de voltar, uma vez que o destino ora se declina para um lado ora para o outro.
Quantos de nós, estando convictos de algo, nos deparamos com mil e uma coisas que mais forças dão à nossa certeza? Quantos de nós, ao ver um aperto de mão, não deram asas à imaginação e viram muito para além daquele aperto? Olhando o mundo à nossa volta, penso em quantas pessoas cometem erros pensando que foi um mal necesário, tal como matar para sobreviver, roubar para comer. Será que os nossos fins justificam os nossos meios?
Ao sair da sala de cinema, muitos foram os comentários referentes ao filme que balançavam entre o “gostei” e o “não gostei”. Eu simplesmente fiquei na dúvida...

segunda-feira, 2 de março de 2009

A Fúria das Vinhas


Enquanto a investigação criminal ainda mal passava de uma semente deitada na terra, as superstições eram já árvores milenares. A filoxera ia destruindo lentamente as vinhas do Douro e o medo e a crendice iam, ao mesmo tempo, estropiando as mentes dos dourienses. Debruçando-se nestas temáticas e enaltecendo a força do Douro surge A Fúria das Vinhas.
Este romance é da autoria de Francisco Moita Flores e foi publicado pela Casa das Letras (uma marca da Oficina do Livro), sedeada em Cruz Quebrada. O romance teve a sua 1.ª edição em Março de 2007 e já em Junho do mesmo ano foi lançada para o mercado a 6.ª edição.
O autor, Francisco Moita Flores, nasceu no ano de 1953. É casado com a actriz e produtora Filomena Gonçalves, que deu vida á personagem D. Antónia da série “A Ferreirinha” exibida pela RTP1 e escrita por Moita Flores. Este é bacharel em Biologia e até 1997 foi professor no ensino secundário, ano em que ingressa na Policia Judiciária. Até 1990 pertence às brigadas de furto qualificado, assaltos à mão armada e homicídios. Contudo, deixa esta instituição, dando preferência à vida académica. Foi sempre trabalhador-estudante e viveu uma vida repleta de inúmeras experiências nos seus 12 anos como agente da Polícia Judiciária. É ainda licenciado em História e doutorado pelo Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra. Posteriormente fez Sociologia, especializando-se em Sociologia Urbana. Mais tarde especializa-se em Criminologia no Instituto de Criminologia de Lausanne e depois em Sorbonne, onde lecciona. Nesta altura prepara o seu Doutoramento em História das Ideias.
Dirige o Centro de Estudos de Ciências Forenses, ao mesmo tempo que colabora com vários jornais e revistas nacionais e programas televisivos. O excelente trabalho tem sido reconhecido, sendo várias vezes premiado em Portugal e no estrangeiro, assim como os seus livros traduzidos em inglês, francês e mandarim, ou mesmo adaptados aos ecrãs televisivos.
Na sua série televisiva “A Ferreirinha”, muito ficou por dizer no que se refere ao “…Paraíso prometido em todas as lições de catequese”, como o próprio autor alude ao Douro. Para dar continuidade a esse marco da ficção nacional, o autor inclui na sua vasta obra A Fúria da Vinhas.
Nas encostas férteis do Douro, Vespúcio Ortigão dá de caras com um serial killer que, na cidade do Peso da Régua, vai matando pobres donzelas indefesas.
Vespúcio vê-se encurralado: por um lado, tem um assassino em série que vai assassinando as flores nas margens do Rio Douro; por outro lado, tem as mentalidades retrógradas, presas ao Bem a ao Mal, à fúria do Demónio e do próprio Deus…
Na segunda metade do XIX, a filoxera ia destruindo lentamente as filhas do Douro, as vinhas de onde surgia o néctar dos Deuses eram agora transformadas em autênticos cemitérios de cepas secas e contorcidas. Todavia, D. Antónia, mais conhecida como Ferreirinha, acreditando num amanhã melhor, luta para combater esta praga que vai estropiando as vinhas.
Simultaneamente, à solta nos socalcos do Douro e em noites de Lua Cheia, misteriosamente surgia uma donzela com o ventre rasgado. Com medo de encarar a verdade e com os olhos tapados pelo nevoeiro das crenças antigas, o povo douriense culpava os lobos por essa tragédia desumana. Todavia, Vespúcio Ortigão, homem debruçado nas ciências e com a mente aberta não acredita, e mostra ao Douro e ao próprio Mundo os avanços da ciência e da investigação criminal. Para tal, desmascara o assassino, mostrando que não se trata de um lobo, mas sim de um Homem.
Enquanto Vespúcio se preocupa com o assassino de que não conhece o rosto, D. Antónia trava uma guerra constante com um assassino que conhece bem o rosto e as marcas que deixa nas encostas que fazem o Douro serpentear e no seu povo. A fome vai chegando pouco a pouco, juntamente com a miséria e, com ela, a esperança vai desvanecendo.
D. Antónia e Vespúcio Ortigão acreditam que depois de uma lágrima derramada vem um sorriso verdadeiro, todavia, têm de lutar por aquilo em que acreditam contra tudo e contra todos.
Indubitavelmente, trata-se de uma obra que merece um lugar de destaque tanto nas estantes de uma biblioteca como na mesinha de cabeceira. Uma obra verdadeiramente empolgante e cativante.
Uma obra de fácil leitura e acessibilidade, impressionante do início ao fim. Mostra o amor à terra e a luta pelos sonhos.
Evidencia a luta constante por aquilo em que acreditamos e o ultrapassar de todos os obstáculos, tanto físicos como psicológicos. Estes últimos são certamente mais difíceis de ultrapassar, uma vez que estão incrementados na mente das pessoas e, quando se acredita verdadeiramente em algo, muito dificilmente alguém derruba essa crença.
Uma obra fascinante! Evidencia cada guerra travada para alterar toda uma crença que unia uma sociedade e a tornava paralisada no tempo, temente ao Bem e ao Mal, interrogando-se sobre o porquê de tanto Deus como o Demónio estarem contra os filhos do Douro.
Em cada página do livro é-nos evidenciada a força para alterar o presente. Em cada folha está uma amostra do potencial do Douro e das pessoas que, de mãos calejadas e rostos queimados pelo sol, lutam constantemente contra as pragas que tentam derrubar os socalcos do Douro. Um orgulho para qualquer português, especialmente douriense, ver num livro deste calibre o seio da sua terra enaltecido.
O Douro, com tanto para evidenciar, com uma história construída com muito suor, lágrimas e sangue, embora rodeado de crenças, não deixa de possuir uma paisagem idílica que consola os olhos e a mente.
Como afirma o próprio autor: “ O Douro era o ventre materno que a aconchegava no colo quando sofria ou era feliz. D. Antónia sabia. Ninguém é feliz para sempre. A felicidade é uma pontuação, não é uma frase. E só a pode sentir no auge das emoções quem sofreu intensamente. A sua vida, a vida de todos os mortais, era feita desta transitoriedade onde o único valor absoluto é a morte.”
Como um dia escreveu Fernando Pessoa “Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena! Quem quer passar além do Bojador tem de passar além da dor”. É verdade que o Douro, para ser o que hoje se observa, tem por trás uma grande história, repleta de sofrimento e mágoa. Mas, “Quem subir ao alto de Vargelas ficará com a certeza de que chegou ao ponto mais belo do céu. O Douro visto daquele píncaro (…) é grandiosamente belo! As montanhas entrelaçam-se, magnificas, para, de repente, se escancararem em vales matizados com toda a paleta de verdes e castanhos que Deus inventou. E, pelas encostas, as quintas vão pintalgando de branco o silêncio majestoso por onde o Rio serpenteia.”

sábado, 29 de novembro de 2008

O Equador


Confesso que foi com curiosidade e uma certa admiração que me deixei embrenhar pelo romance de Miguel Sousa Tavares, editado em 2006 pela Oficina do livro, que se intitula Equador.
Miguel Sousa Tavares nasceu na cidade do Porto no dia 25 de Junho de 1952. Filho da emblemática Sophia de Mello Breyner Andersen e do advogado Francisco Sousa Tavares, Miguel Andersen de Sousa Tavares iniciou a sua vida profissional seguindo os passos do pai na advocacia, que viria a abandonar em favor do jornalismo. Seguiu depois o trilho da mãe no que se refere à escrita literária. Homem de opiniões fortes, tem nas crónicas e reportagens que elabora uma grande obra, tanto em quantidade como em qualidade. As suas aventuras literárias vão desde a publicação de livros infantis, passando por diversos contos e finalizando nos romances, dentro dos quais Equador ganha realce pois foi a inauguração nesta aventura. Rio de Flores é o seu mais actual romance. Entra todos os dias em nossa casa devido ao jornal “Expresso” e à estação de televisão TVI, onde é comentador, ou semanalmente através do jornal “A Bola”, onde ortografa a crónica intitulada “Nortada”.
Em Equador tudo começa numa manhã chuvosa de Dezembro, quando Luís Bernardo Valença é chamado por El-Rei D. Carlos a Vila Viçosa, no ano de 1905, ano em que Portugal tinha em sua posse as colónias de África.
Nunca em todo o trajecto de comboio que separa Lisboa de Vila Viçosa, Luís Bernardo imaginou o que o esperava daquela convocação repentina. Mas eis que as respostas às suas perguntas surgem. Devido às suas ideias e aos artigos que publicara sobre as colónias de África, defendendo os trabalhadores e levantando a discussão entre os “europeus” e os “africanistas”, El-Rei D. Carlos convida-o para Governador de S. Tomé e Príncipe. Em jogo, para além da governação da colónia, estava mostrar ao Mundo e principalmente aos ingleses que não existia trabalho escravo nas roças.
Luís Bernardo teria de trocar a sua vida despreocupada e mundana da capital lisboeta por uma missão patriótica nos desterros de África. Devido ao apoio dos amigos, salientando o seu companheiro de longa data João, Luís Bernardo aceita a nomeação.
Após ter desembarcado em S. Tomé, feitas as devidas conveniências e formalidades, Luís Bernardo começou a visita às roças. Cada uma tinha o seu mistério e o seu encanto.
O tempo passa... e vai passando... Luís Bernardo vê-se prestes a acolher um representante inglês para verificar se a escravatura que ainda existia nas colónias de um país que se dizia civilizado e evoluído. David e Ann Jameson chegam.
Os problemas começam a surgir. Luís Bernardo vê-se dividido entre a amizade pelo cônsul inglês e a descoberta arrevesada do amor. Para piorar a situação, ainda tem de lidar com mentalidades retrógradas e mesquinhas, levando-o a entrar em conflito com a metrópole e considerar-se um falhado A cada dia que passa sente-se mais desolado. A dignidade dos trabalhadores era, na maioria das roças, uma utopia. Apesar das suas ideias e filosofia de vida, a sociedade mesquinha que o rodeava não o deixava pô-las em prática.
Miguel Sousa Tavares consegue em Equador evidenciar bem a linha de separação entre dois mundos muito contrastantes: por um lado, temos uma metrópole dita “civilizada”, cheia de ideias, parada em serões libertinos e descontraídos, enquanto no outro lado deparamo-nos com dor e sofrimento, trabalho árduo, onde os pensamentos retrógrados e a ambição pelo lucro fazem esquecer tudo e todos.
Trata-se de um retrato bem delineado da sociedade portuguesa dos inícios do século XX, da inércia que a caracteriza. Embora existam ideias, a sociedade envolvente deixa muito a desejar, remetendo-nos para os “Vencidos da Vida”, ou como diz o próprio Luís Bernardo: “Não sei se sou eu que vencerei as ilhas ou elas que me vencerão a mim.”
Uma história cativante, com um vocabulário de fácil compreensão e acessibilidade. Esta obra leva-nos atrás no tempo, devido à história que se desenrola e à descrição minuciosa dos trajes da época, dos costumes, dos pensamentos, dos ideais de vida. Chegamos mesmo a sentir na pele os aromas, a humidade e o calor intensos que se encontram concentrados na densa atmosfera africana.
Todavia, pode-se transportar para o presente grandes lições de vida: adaptarmo-nos às condições mais adversas, ver em pequenas coisas um motivo para sorrir, não desistindo assim que o primeiro obstáculo aparece à nossa frente – tal como afirma o autor: “... ele desconhecia em absoluto a noção de tempo perdido e cada dia de vida era para ele uma dádiva, que nenhum desgosto e nenhum revés poderiam toldar.” – mas também a importância da amizade. É devido a ela que se enfrentam os mais dolorosos obstáculos, é ela que nos acompanha quando estamos sós, mesmo que seja numa “… aldeia metida dentro da selva e deixada à deriva no meio do Atlântico, à latitude do Equador...”.
Ao penetrar página a página deste livro, senti-me a viajar no tempo e conhecer um pouco da história do nosso país. Não aquela história maravilhosa, mas sim a do uso da escravatura, estando já esta abolida.
Um livro surpreendente que todos os portugueses deveriam ler, para que no fim se deixassem de discursos floridos e passassem realmente à acção...



terça-feira, 3 de junho de 2008

Veronika Decide Morrer

Ficha de Leitura



Bibliografia:

Nome do autor: Paulo Coelho

Título: Veronika Decide Morrer

Editor: Pergaminho

Local e data: Cascais, 2004


Ref. Bibl.: COELHO, Paulo, Veronika decide morrer, Cascais, Pergaminho, 2004





Informações sobre o autor:

Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro, em 1947. Viajou por todo o mundo só depois começou a escrever o que teve muito sucesso. Ganhou vários prémios importantes, entre os quais, o de Chevalier de l`Ordre National de la Légion d`Honneur, na França, o prémio Bambi da cultura, na Alemanha e também Conselheiro Especial da UNESCO.


Resumo:

Neste livro é retratada a vida de Veronika. Ela, com 24anos, tinha juventude, beleza, amigos, pretendentes, uma família que a ama, um emprego que a satisfaz, contudo falta alguma coisa na sua vida. Por isso, numa manhã fria de Novembro ela decide morrer.
Toma muitos comprimidos, esperando que a morte venha devagar, enquanto observa a praça de Lubljana e lê uma revista. Adormece. Quando acorda encontra-se no Sanatório em Villete. Aí descobre que tem poucos dias de vida porque o seu coração, devido aos comprimidos, ficou fraco.
Começa, de uma maneira involuntária, a fazer amigos e a mudar o modo de pensar nas pessoas mais próximas naquele sanatório. Até que se apaixona por Eduard, um esquizofrénico, que gostava, de passar as noites a escutar o som da música que ela tocava ao piano. Todos, incluindo ela, sentem a importância de viver. Veronika passa a viver cada minuto e cada segundo, como se fosse o último, agarrando-se o mais que pode à vida.


Citações:

“ Todos nós vivemos no nosso próprio mundo. Mas se tu olhares para o céu estrelado, verás que todos esses mundos diferentes se combinam, formando constelações, sistemas solares, galáxias.”


Comentário:

Na minha opinião é uma excelente lição de vida. Retrata como, estando próximos da morte, é que damos conta como a vida é importante para nós.
É um livro que faz com que o leitor reflicta sobre o sentido da existência, dos limites da loucura. Este livro revela a escolha entre a vida e a morte que tem que ser feita a cada momento.
Um livro que toda a gente deveria ler…

O Zahir

Ficha de Leitura







Bibliografia:

Autor: Paulo Coelho

Título: O Zahír


Editora: Pergaminho

Local e data: Cascais, 2005


Referência Bibliográfica: COELHO, Paulo, O Zahír, Cascais, Pergaminho, 2005






Informações biográficas sobre o autor:

Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro, em 1947. Viajou por todo o mundo e só depois começou a escrever, no que teve muito sucesso, sendo um dos cinco autores mais lidos em todos os países do mundo, incluindo Portugal. Ganhou vários prémios importantes, entre os quais o de Chevalier de l`Ordre National de la Légion d`Honneur, na França, o prémio Bambi da Cultura, na Alemanha, e também a distinção máxima do Fórum Económico de Davos, na Suíça. É Conselheiro Especial da UNESCO e do Centro Shimon Peres para a Paz.


Síntese da Obra:

O Zahir pode ser definido como sendo algo que, uma vez tocado ou visto, pouco a pouco vai ocupando o nosso pensamento até levar à loucura. O Zahir aqui patente tem um nome: Esther.
Este livro é narrado na primeira pessoa e conta a história de um escritor de sucesso, contudo só conseguiu realizar o seu sonho devido à insistência da sua mulher, pois ele adiava sempre a realização do sonho com medo de sofrer mais tarde. Após editar o primeiro livro, ele começou a ter uma vida confortável, um casamento estável e, acima de tudo, tornou-se num homem satisfeito e realizado.
Todavia, sem qualquer motivo, explicação ou aviso prévio, a Esther, sua mulher, desaparece. Ele martiriza-se pois esse desaparecimento inexplicável leva-o a repensar toda a sua vida, tentando encontrar o momento em que falhara e a pensar em tudo o dava valor. Essa procura pouco a pouco tornou-se numa obsessão. No meio da sua busca incessante, dá de caras com o “amante” da sua mulher e, contrariando a sua maneira de ser, pede-lhe auxílio e com ele descobre o que realmente interessa para se ser feliz descobrindo um mundo que está ao alcance de todos mas que ninguém quer integrar.
Ambos partem numa viagem para reencontrar Esther e ao mesmo tempo encontrar-se ele próprio. Um “eu” que existia mas que estava oculto.


Citações Relevantes:

“…a liberdade absoluta não existe: o que existe é a liberdade de escolher qualquer coisa, e a partir daí estar comprometido com essa decisão”
“…no amor não há bem nem mal, não há construção nem destruição, há movimentos. E o amor muda as leis da Natureza.”
“ O amor é uma força selvagem. Quando tentamos controlá-lo, ele destrói-nos. Quando tentamos aprisioná-lo, ele escraviza-nos. Quando tentamos entendê-lo, ele deixa-nos perdidos e confusos.”
“…tive de a perder para entender que o sabor das coisas recuperadas é o mel mais doce que podemos experimentar”
“…a idade só consegue diminuir o ritmo daqueles que nunca tiveram coragem de andar com os seus próprios passos.”


Comentário pessoal sobre a obra:

Como todas as obras de Paulo Coelho, também O Zahír apresenta uma reflexão autêntica e ponderada acerca do amor, da liberdade e do destino.
É uma obra que me cativou pelos mais diversos motivos, entre eles a escrita de fácil compreensão e acessibilidade; uma história que nos ensina para a vida e com que eu própria me identifiquei. Apresenta uma escrita e uma história simples mas envolve espiritualidade, que se torna um tema bem complexo, que evidencia que só quando estamos longe da pessoa que amamos é que damos conta do quanto é importante para nós. O mesmo acontece com um objectivo: tem de se lutar; assim o troféu tem um sabor mais especial.
Um livro que toda a gente deveria ler para, no fundo, poder responder à questão “Quem sou eu?”, pois o mais difícil é conhecermo-nos a nós mesmos.

O Alquimista

Ficha de Leitura




Bibliografia:

Autor: Paulo Coelho

Título: O Alquimista


Editora: Pergaminho

Local e data: Cascais, 2003



Referência Bibliográfica: COELHO, Paulo, O Alquimista, Cascais, Pergaminho, 2003




Informações biográficas sobre o autor:

Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro, em 1947. Viajou por todo o mundo só depois começou a escrever o que teve muito sucesso, sendo um dos cinco autores mais lidos em todos os países do mundo, incluindo Portugal. Ganhou vários prémios importantes, entre os quais, o de Chevalier de l`Ordre National de la Légion d`Honneur, na França, o prémio Bambi da cultura, na Alemanha e também a distinção máxima do Fórum Económico de Davos, na Suiça. É Conselheiro Especial da UNESCO e do Centro Shimon Peres para a Paz.


Resumo da Obra:

Santiago é um jovem pastor da Andaluzia. Cada dia é passado com as suas ovelhas em campos, prados, aldeias desconhecidas, contudo um dia abandona o seu rebanho para ir em busca de uma quimera: realizar o seu destino e cumprir a sua Lenda Pessoal.
Tem duas vezes o mesmo sonho, não o compreende mas mesmo assim deseja-o. Procura pessoas capazes de interpretar os sonhos e todas lhes dizem o mesmo: luta pelo teu sonho. Até que encontra um Rei, este dá-lhe uma lição de vida que o acompanhará para sempre e Santiago parte em direcção ás Pirâmides do Egipto, para tal vende as suas ovelhas.
Ao chegar a África é assaltado e tenra desistir do seu sonho, mas uma súbita recordação fá-lo voltar a ter forças e voltar a seguir em frente. Pelo caminho, encontra uma Loja de Cristais, e aí tenta ganhar dinheiro. Consegue mudar o mundo do Mercador de Cristais e duplicar os lucros. Passado um ano decide voltar para as suas ovelhas mas a recordação do Rei volta e assim o Pastor decide continuar a lutar pela sua Lenda Pessoal.
As dificuldades eram muitas – o deserto era uma delas – e a vontade de realizar o seu sonho era maior que o Universo. Assim decide viajar numa caravana, onde conhece um Inglês que tenta encontrar um Alquimista (era a sua Lendo Pessoal). Santiago descobre que todos andam atrás de um sonho, a maior parte das pessoas sem saber qual é o seu. Como no deserto existia uma guerra entre os clãs, a caravana parou num oásis. Aqui o Pastor encontrou Fátima que viria a ser sua esposa e assim quase desisti do seu sonho. O Alquimista (que vivia no oásis) encontrou Santiago e assim ajudou-o a seguir o seu sonho. Ensinou-o a seguir os sinais e a ouvir o seu coração.
Santiago esteve à beira da morte por duas vezes, mas a vontade de realizar um sonho e a persistência levaram-no ao seu tesouro, e assim realizar o seu sonho.


Citações Relevantes:

“E quando estas pessoas se cruzam, e os seus olhos se encontram, todo o passado e todo o futuro perdem qualquer importância, e só existe aquele momento, e aquela certeza incrível de que todas as coisas debaixo do sol foram escritas pela mesma Mão. A Mão que desperta o Amor, e que faz uma alma gémea para cada pessoa que trabalha, descansa e busca tesouros debaixo do sol. Porque sem isto não haveria qualquer sentido para os sonhos da raça humana.”
“…diz-lhe que o medo de sofrer é pior que o próprio sofrimento. E que nenhum coração jamais sofreu quando foi em busca dos seus sonhos, porque cada momento de busca é um momento de encontro com Deus e com a Eternidade.”
“Quem vive a sua Lenda Pessoal, sabe tudo o que precisa saber. Só uma coisa torna um sonho impossível: o medo de fracassar.”


Comentário pessoal sobre a obra:

O Alquimista é um livro que retrata o sentido da expressão: o sonho comanda a vida. É uma óptima lição de vida e coragem. Mostra que “quando um Homem sonha a obra nasce”.
Um livro que nos mostra que, realmente, existe um sentido profundo para a nossa vida e como é importante sonhar, mas para além disso mostra que nunca se deve desistir de um Sonho…