terça-feira, 1 de março de 2011

Nunca me Esqueças


A última página chegou ao fim… Com uma lágrima a baloiçar nos olhos fechei o livro Nunca me Esqueças cuja escritora é Lesley Pearse, uma das preferidas do público português.
A própria vida de Lesley Pearse é uma fonte de inspiração para os seus romances, mesmo que aborde a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, rejeição, pobreza ou até vingança, dado que sentiu na pele essas vicissitudes da vida. Lutadora, deve a estabilidade e sucesso à escrita. Tem as obras traduzidas em mais de trinta línguas. Os seus romances de maior sucesso para além de Nunca me Esqueças são: Segue o coração, Nunca olhes para trás e Procuro-te.
Nunca me Esqueças relata a vida de Mary que, num dia apenas com um gesto vê a sua vida rumar por mares onde o Gigante Adamastor se encontra a cada passo que dê. Tudo começa quando, num dia decide sair da sua pacata vida na Cornualha e rouba um chapéu sendo punida à forca. A sua única alternativa para se livrar da morte no cadafalso é recomeçar a vida no outro lado do mundo.
Mary, como tantos outros prisioneiros de ambos os sexos são deportados para a Austrália no intuito de formar a primeira colónia de condenados. A viagem é feita no Dunkirk onde o fedor a dejectos humanos espalhados pelo chão do navio prisão assim como vomitado, a falta de água e alimentação em quantidade e qualidade, o passear constante de ratazanas em cima dos corpos imundos, os piolhos e a falta de ar fresco resultaram no avançar de doenças. Muitos óbitos foram surgindo, sendo os corpos escanzelados lançados ao mar. Com a alegria e fome de aventura, Mary revolta-se! E, como algumas prostitutas que embarcavam naquele inferno, vende o corpo para salvar a sua vida. Consegue comida extra, roupa lavada, prestigio perante os outros condenados e, acima de tudo apanhar ar fresco. Todavia, acaba por ficar grávida de Charlotte. Sem as mínimas condições de higiene dá a luz…
Aquele nauseabundo e pestilento navio prissão que, Mary pensava ser o inferno finalmente chegou ao terrível fim da viagem. Ao desembarcar avistaram o nada! Apenas um calor abrasador, vegetação e animais estranhos.
Os condenados, ao sentirem solo debaixo dos seus pés e libertos dos grilhões que os prendiam corriam tais animais em época de cio em direcção ao sexo oposto. Mary deparou-se com imagens horripilantes: mulheres derrubadas na areia sendo possuídas tanto por oficiais como por outros prisioneiros, faziam fila e violavam umas a seguir às outras.
O tempo foi passando, Mary para se proteger casa-se com Will. Pescador com quem já trocara conversa a bordo do Dunkirk. É-lhes dada uma cabana pequena.
As rações para a população escasseavam, os solos eram inférteis, os condenados preguiçosos, os oficiais entregavam-se ao ócio. O divertimento: sexo, rum, furtos.
Do casamento nasce Emmanuel. Após ver o marido ser açoitado, Mary começa a planear a fuga por mares nunca dantes navegados até Kupang. Reuniram tudo quanto precisavam, levaram alguns dos outros condenados que podiam ser úteis e zarparam numa noite de luar.
Várias tempestades, ameaças a vida, falta de água doce, excesso de sol abrasador fizeram da viagem o pior dos seus pesadelos, num barco descoberto. Mas, o ânimo e a coragem de Mary alegravam a restante tripulação. Ao chegarem escanzelados, fracos, desnutridos ao destino viveram uma vida normal. Mas, eis que a vida dá uma volta de 180º e, novamente o terror volta: desilusões surgem! São traídos, novamente se vêem presos com grilhões e num navio prisão. Novos surtos de doenças atacam levando Mary a desejar a forca em Inglaterra. Terá ela novas forças para aguentar? Inglaterra inteira já tinha conhecimento da história todavia, seria isso suficiente para que tenham compaixão dela a ponto de ser absorvida da forca? Irá ela encontrar o verdadeiro amor ou irá novamente o seu coração sagrar?
Até onde iria por amor? Subtítulo do romance pergunta à qual ninguém sabe responder. Num desabafo já esgotado e sem esperança de Mary deparamo-nos com a seguinte citação: “Não sei se acredito que os homens sejam capazes de amar. Quando os homens são capazes de usar o mesmo acto pelo qual demonstram o seu amor a uma mulher para lhe mostrar o seu desprezo e ódio, não acredito que tenham coração.” Citação que evidencia bem a dor que uma mulher sente na sua fragilidade, quando se entrega de corpo e alma a um acto, a um homem que, de uma hora para a outra pode significar desprezo e dor.
Indubitavelmente, um romance no qual é impossível evitar que as lágrimas balancem nos olhos e rolem pela face. A luta de uma mulher pelo desconhecido, pela liberdade, amor. A luta pela sobrevivência, a oposição contra um sistema e governo injustos no qual apresentam propostas e ideias megalómanas todavia, a preguiça, o ócio, os vícios tornam as pessoas mesquinhas e pequenas, incapazes de colocar em prática os seus projectos.
Embora a escritora tenha usado a sua imaginação bem como as suas vivências pessoas, é chocante chegar a última página do livro e ter conhecimento que a obra é baseada em factos verídicos!